segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sines revolta-se de novo contra a poluição das empresas petroquimicas


Os problemas estruturais de que padece Sines, desde que ali foi instalado o complexo petroquímico, há mais de 30 anos, e que estão associados à poluição do ar ambiente, da água para consumo humano e do mar, continuam a castigar a vida dos residentes naquela cidade do litoral alentejano. Para inverter a situação, surgiu agora o Movimento Cívico contra a Poluição, que culpa a “inoperância das autoridades” no primeiro comunicado divulgado pelos residentes.
No manifesto são descritas as principais razões que justificam os protestos. Sines e as localidades vizinhas foram “nos últimos meses afectados” por episódios de poluição com um grave impacto na comunidade local, destacando-se a contaminação do aquífero que abastece a cidade, a descarga para o mar de efluentes não tratados e a intensificação dos “cheiros nauseabundos que surgem ao anoitecer ou de madrugada e que tornam o ar irrespirável”, denuncia Hélder Guerreiro um dos membros do movimento.

Para resolver os problemas que todos os dias fustigam a população, o movimento cívico apela à mobilização para “pôr de vez um ponto final na situação”, diz o mesmo responsável ao PÚBLICO, acrescentando que “são episódios demais num curto espaço de tempo” e que “ninguém pode aceitar por serem intoleráveis”.

“Até em Setúbal já se queixam dos maus cheiros, produzidos em Sines”, sustenta o dirigente do movimento.

Em Abril, a pesca profissional e lúdica foi proibida, depois de terem surgido reclamações de alguns consumidores relativas a pescado com “forte sabor a hidrocarbonetos”. A Polícia Marítima e a Capitania de Sines relacionaram a contaminação do pescado com a mancha de poluição detectada na zona do emissário da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Ribeira de Moinhos, que largou efluentes não tratados e forçaram a paragem dos pescadores por vários dias. Até hoje ninguém foi ressarcido dos prejuízos causados, frisa o comunicado do movimento cívico.

Câmara considera situação intolerável

Os protestos da população levaram a Câmara de Sines, na sua reunião de quinta-feira, 20 de Outubro, a aprovar “por unanimidade” uma tomada de posição sobre a “crise de maus cheiros industriais vivida actualmente no concelho”.

O executivo municipal confirma que a população de Sines está a ser confrontada “com uma situação de maus cheiros frequentes, por vezes insuportáveis, que provocam incómodos, susceptíveis de afectar a saúde e o bem-estar das pessoas” para além de gerarem “apreensão e intranquilidade”.

Esta situação tem origem na “incúria de responsáveis de empresas, que não assumem essas responsabilidades, nem cuidam de tomar medidas que resolvam estes problemas”. Uma situação a autarquia classifica de “intolerável.”

O Ministério do Ambiente e as entidades que tutela (Agência Portuguesa do Ambiente, assim como a IGAOT e outras), são acusados de “incúria” por não obrigarem as empresas a tomarem as “medidas adequadas e eficientes ao bom funcionamento dos processos” que fundamentam a sua actividade.

O município de Sines garante que “há meios mais que suficientes para resolver estes problemas” por parte das empresas petroquímicas que exercem a sua actividade no concelho, mas que não estarão a ser aplicados. Para contrapor às infracções que estão a ser praticadas, a autarquia apela à mobilização das pessoas e informa que vai pedir às entidades em falta que assumam as suas responsabilidades na situação que está a ser criada.

Um longo historial de lutas

Na década de 1980 aconteceram em Sines dois graves acidentes ambientais: a explosão do petroleiro "Campeón" ao largo de Sines, em 15 de Agosto de 1980 e o derrame de crude do navio “Marão”, em Julho de 1989.

Em 1982, e na sequência das descargas detectadas na costa norte de Sines, a população respondeu com a primeira “Greve Verde” do país.

Em 1995 no seguimento de um novo derrame de hidrocarbonetos e da repetição dos problemas com emanações de fumos poluentes, os pescadores paralisaram a frota pesqueira a que se juntaram os citricultores de Sines e de Santiago do Cacém para exigirem indemnizações por prejuízos sofridos na pesca e na queda de produção de toneladas de fruta.

No final da década de 1990, a população de Sines lutou contra a instalação de uma unidade de incineração de lixos tóxicos no concelho.

Seguiram-se, em 2006, a construção da refinaria de Patrick Monteiro de Barros, a descarga de Clínquer no Porto de Sines, a tentativa de instalar uma fábrica de produção de energia eléctrica junto à cidade, pela Galp, a contaminação dos solos do aquífero por hidrocarbonetos e o derrame de poluentes com hidrocarbonetos no mar de Sines, em Abril de 2011.

Fonte: Público - Reportagem: Carlos Dias Foto: Miguel Manso

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